7/10
Entretém, mas o todo é inferior à soma das partes!
30 March 2010
Este é um daqueles filmes que foi muito aguardado pelo simples facto de ter os mestres de artes marciais Jackie Chan (trilogia "Hora de Ponta" e "À Procura do Bebé")e Jet Li ("Força Destruidora" e bloco "Era Uma Vez Na China") a contracenaram juntos pela primeira vez e, curiosamente, a lutarem pela mesma causa, ao contrário do que somos de imediato levados a pensar. Pese embora ambos tenham personagens muito pitorescas e até caricatas, a verdade é que o espectador fica um pouco desiludido, não só com as suas somente aceitáveis interpretações, como com o facto das suas figuras serem ofuscadas por outras mais fortes, quer em destaque, quer mesmo pelas características visuais que lhes são atribuídas (não em questões de força ou de poderes sobrenaturais).

Esta aventura de sábado á tarde, dirigida pelo especialista em entretenimento familiar Rob Minkoff (realizador de "Rei Leão" e dos dois primeiros da trilogia "Stuart Little"), transporta o espectador numa viagem no tempo até à China ancestral, onde o objectivo é a libertação do acarinhado Rei Macaco (um dos dois papeis desempenhados por Jet Li). A viagem ocorre como que por artes mágicas a partir da Boston, Estados Unidos, que hoje conhecemos, num vaivém um pouco ou quanto "nublado" (provavelmente contagiado por "Jumper", apresentado ao mundo meses antes), daí que o enredo, adaptado de um clássico da literatura chinesa, pelo especialista no género aventura, John Fusco (argumentista de "Hidalgo" e do nomeado aos Óscares "Spirit"), não seja nada de por ai além, chegando até a parecer um pouco descuidado e com articulação forçada. As personagens foram adaptadas de uma série de lendas locais nas quais também o culto "Dragon Ball Z" se inspirou.

O estilo da apresentação inicial procura seguir a tradicional linha dos anos 80 dos irmãos Shaw, aliás, todo o filme está marcado por uma série de referências aos mais diversos ícones deste género. A cinematografia do oscarizado Peter Pau ("O Tigre e o Dragão" e "Atirar a Matar") é muito agradável, bem como a maior parte dos locais de filmagem, em especial as passagens do deserto de Gobi (quase toda a obra foi filmada na China, mesmo as cenas de estúdio).

As coreografias de acção estão bem conseguidas, ou não fossem estas da responsabilidade de Woo-ping Yuen (trilogia "Matrix" e ambos os "Kill Bill"); este costuma ser este um dos pontos fracos em grande parte dos filmes que se fazem dentro do género, contudo, em "O Reino Proibido" o todo é mais fraco do que a soma das partes, não se chegando ao certo a saber porquê, ficando, muito provavelmente, a dever-se à expectativa que se criou por enfim se conseguir ter estas duas lendas asiáticas das artes marciais numa mesma obra, tal como quando em "A Dupla Face da Lei" a desilusão foi igual ou maior ainda, filme em que se voltaram a juntar os históricos Robert De Niro e Al Pacino, que, ao fim de quatro décadas a fazerem sucesso em policiais, contracenaram apenas pela segunda vez ("Cidade Sob Pressão" em 1995 - haviam participado em "O Padrinho 2" de 1974, todavia, nunca surgindo no mesmo plano, dado o desvio temporal entre a contextualização de cada um).

Os efeitos especiais são um bom cartão de visita nesta história de resgate que custou 55 milhões de dólares, capazes de, em conjunto com a acção bem conseguida, fazerem as delícias de espectadores menos exigentes, desviando a atenção daqueles que são os calcanhares de Aquiles: o pobre argumento e o fraco desempenho da realização e dos protagonistas, onde também se inclui o viajante Michael Angarano ("Quase Famosos" e "Escola de Heróis"), em minha opinião, um dos maiores erros de casting da história da sétima arte, não por ser mau actor – que não é – mas por ser muito tenro e pouco presencial para um papel em que se exigia um estilo e imagem menos "Karaté Kid". Excepção nas interpretações para a praticamente desconhecida Bingbing Li, no papel da inesquecível bruxa Ni-Chang que, tal como meio mundo, procura o acesso a um elixir da eterna juventude; dotada de uns cabelos inigualáveis, tanto pelos seus poderes, como pela sua cor branca, ainda bem mais contagiante que a de "Storm" (Halle Berry) da trilogia "X-Men", ela é o maior obstáculo ao triunfo do bem.

Resumindo, temos um realizador de primeira, um argumentista consagrado, um director de cinematografia de renome, um coreógrafo de elite, efeitos especiais de topo, actores dotados e um filme pouco acima do razoável, sendo que, com uma equipa assim, mais do que podia, devia mesmo ser melhor!
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