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Masterpiece! Outstanding self-portrait of a generation...
7 August 2013
Exceeded all expectations; it's a gem of a movie, especially for a Portuguese one! Nice plot, a perfect cast, a postcard location in Portugal and, most of all, a whole generation in a self-portrait of the Portuguese community in France, with some tears between many laughs…

Even so, I do believe that director Ruben Alves missed the chance to end the movie a few instants earlier, closing a comedy in the traditional drama's style, as last minutes appeals for some tears from the audience. In my opinion, the plot is too strong to begin and end as a comedy, and some work might have been done to take the opportunity to run the movie in a serious "La Vita È Bella" style, instead of the silly path for the nice feeling sensation, with Pauleta's presence being a completely non-sense – as the Brazilian's says, "Puxa Saco" (it has no translation)!

Anyway, I strongly recommend it to be seen; we only have a masterpiece like this once in a while
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Marley & Me (2008)
9/10
Simpático e verosímil, um filme para toda a família!
4 May 2010
Warning: Spoilers
Começa por ser uma comédia romântica, chega a parecer um drama conjugal mas aquilo que este "Marley & Eu" é, de facto, é um filme familiar tão real que pode mesmo parecer palpável. Original não será mas foge à tendência usual deste tipo de filmes sobre o melhor amigo do homem, mais tendencialmente para o cómico ("Spot"), para a aventura ("Lassie") ou com contornos de fábula ("Como Cães e Gatos"). Outro elemento fora do comum é o acompanhamento do cachorro Marley, desde recém-nascido até à sua sepultura, acompanhando todas as etapas da sua vida.

Diz-se que "vale mais cair em graça do que ser-se engraçado"… Pois bem, foi o que se passou com Marley, um Labrador acabado de nascer que acabou por sobressair por entre a ninhada por ser o menos sumptuoso. Os preços variavam, fêmeas 300, machos 275 e o "outlet" Marley a 200 dólares, contudo, fosse como fosse, eles teriam escolhido Marley – foi amor à primeira vista!

O "eles" refere-se a um casal que recentemente se mudara para a Florida, no qual ele a presenteara com um animal, faltando apenas a escolha do respectivo. Marley será a companhia deste casal desde três semanas depois (altura em que pode abandonar a progenitora) e até à sua morte, sendo parceiro de aventuras, motivo de desavenças e, acima de tudo, companhia para os três filhos que entretanto vão nascendo. Marley é um amigo para os 5 e até para os demais que se aproximem, ele serve para os "engates" dos amigos do dono, pressente um assalto no terreno anexo, sabe quando as crianças estão para chegar da escola e até se afasta para não incomodar quando as suas horas estão a chegar ao fim. Marley é respeitado e reconhecido como pilar da família, em suma, é um cão melhor do que a encomenda!

Owen Wilson ("Atrás das Linhas do Inimigo" e "Starsky & Hutch") e Jennifer Anniston ("Romance Arriscado" e "É Agora ou Nunca") são o casal apaixonado, contudo, o protagonista é mesmo Marley, um Labrador que é desempenhado por mais de vinte animais de modo a poderem ser retratadas todas as fases do seu desenvolvimento. Nos papeis secundários destacam-se Kathleen Turner ("Guerra Das Rosas" e "Em Busca da Esmeralda Perdida") e Alan Arkin ("Gattaca" e "Olho Vivo").

A realização de David Franken tem momentos muito positivos, a edição de Mark Livolsi é excelente e a fotografia, de Florian Balhaus, está a um bom nível. A produção trabalhou visivelmente bem, em especial no que respeita à escolha dos locais de filmagem, os quais proporcionam excelentes panoramas, quer no campo, na praia, em casa ou mesmo na neve. O argumento é adaptado para o cinema a partir da verdadeira história das personagens retratadas, a auto-biografia do jornalista John Grogan.

Nota negativa para o clarividente abuso no número de animais usados, os quais não conferem a credibilidade que o argumento merecia por serem demasiado distintos em certos momentos, como, por exemplo, passarmos de um cachorro com os tradicionais tons amarelados para um cachorro esbranquiçado de um plano para outro. Outra situação não muito trabalhada foi o envelhecimento dos actores, quer principais, quer secundários; Alan Arkin, por exemplo, acompanha a temporização da acção e começa e acaba o filme absolutamente igualzinho. O parque automóvel também foi um pouco descuidado, é certo que o carro do casal acompanha o tempo, contudo, os demais que na estrada circulam não estão contextualizados.

"Marley & Eu" é um filme difícil de esquecer; o cachorro em promoção, que até foi expulso de um curso de obediência, conquista-nos sem qualquer dificuldade e toda a obra é muito colorida e agradável. Apesar de longe da perfeição, este é um filme com alguma qualidade e cujas lacunas passam facilmente despercebidas aos espectadores menos exigentes. Trata-se de uma obra capaz de fazer rir de vez em quando e que poderá até sensibilizar nos tocantes momentos finais, ideal para toda a família passar uma tarde em confraternização
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9/10
Um filme invulgar recheado de excelentes interpretações!
3 May 2010
Warning: Spoilers
"A Vida Num Só Dia" é uma comédia dramática como raramente se vê, um filme feito com gosto, a partir de um romance destemido que, embora foque a vida de uma governanta com pouco jeito para as crianças, acaba por se centrar em todo um universo social da Londres dos anos trinta, tudo isto, numa acção desenrolada em menos de 48 horas.

Miss Pettygrew é uma pessoa pura que recebeu uma rigorosa educação cristã e está marcada pela dor de ter perdido o seu único amor aquando da Primeira Grande Guerra Mundial. Ganha a vida como governanta em casa de famílias abastadas nas quais não perdura em funções, desconhecendo-se o porquê…não se veste com os cortes ou as cores da moda, não se conhecem amigos e, por necessidades financeiras, recorre à "sopa dos pobres". Esta é a personagem principal deste filme espantoso, a qual tinha tudo para não nos conquistar, mas que nos devora durante os intensos 80 minutos que a película dura.

Delicia Lafosse é uma impostora americana que procura a sorte em Inglaterra pavoneando-se por entre a alta sociedade. Tem o coração dividido entre três amores (entenda-se namorados) que em nada são iguais, um é magnata, proprietário do luxuoso bar onde esta actua pela noite dentro; outro é humilde, pianista com engenho e ex-presidiário com o sonho de regressar aos Estados Unidos; e outro é filho de um abastado produtor teatral, jovem robusto que não sabe se lhe há-de proporcionar o papel principal na sua primeira peça ou mesmo de casar com ela… Por falar nisso, o maior pesadelo de Lafosse é Charlotte Warren, concorrente ao anel de noivado e ao estrelato nessa tal peça, num duelo venenoso, ainda que leal, que acrescenta vigor à obra.

Os destinos de Pettygrew e Lafosse cruzam-se numa manhã em que uma procura desesperadamente um novo trabalho e a outra um braço direito que a ajude a orquestrar uma infinidade de artimanhas num quadrado amoroso sem igual. Pois bem, sem ser o trabalho ou a secretária social que uma e outra esperavam, a verdade é que ambas acabam por viver situações mutuamente proveitosas e com isso criam laços de afecto inegáveis. Pettygrew vive um dia que dificilmente se repetirá em toda a sua vida, inclusive encontrando o verdadeiro amor onde menos esperaria; enquanto Lafosse enfrenta um oceano de emoções, acabando por seguir o coração e atravessar o Atlântico com aquele que demonstrou ama-la de corpo e alma, para gáudio da adversária, Warren, a quem saiu o jackpot – ficou noiva e será a actriz principal da mais aguardada estreia da temporada teatral.

Este é um filme muito simpático, com interpretações irrepreensíveis encabeçadas pela fabulosa Francês McDormand ("Terra Fria" e "Cidade do Passado"), no papel de Miss Pettigrew, e pela "deliciosa" Amy Adams ("Apanha-me Se Puderes" e "Divorcio de Milhões"), como Delicia Lafosse. Foi realizado por um realizador praticamente desconhecido, Bharat Nalluri, a partir de um argumento adaptado por Simon Beaufoy, o cérebro por detrás de "Quem quer ser Bilionário", que se baseou numa modesta (mas poderosa) obra da escritora britânica Winifred Watson, que já há 70 anos havia cedido os direitos à Universal Pictures sem que no entanto esta avançasse. Conta ainda com uma banda sonora bem contextuada, uma agradável fotografia e locais de filmagem extremamente glamourosos, em especial os interiores, sendo que a obra foi integralmente rodada em Londres.

Um filme numa linha já não muito frequente, com o Holocausto como pano de fundo, numa sátira à promíscua sociedade britânica da primeira metade do Século XX. Sem grandes efeitos especiais ou acção desalmada, compete com muitos aos quais esses não faltam na luta pelo título de "companhia certa para uma tarde de fim-de-semana". Ideal para quem procura boa disposição sem recurso ao ridículo ou caricato, ingredientes cada vez mais predominantes nas comédias contemporâneas… Muito interessante!
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Prime (2005)
8/10
Tanta Uma Thurman que Maryl Streep parece apenas mais uma actriz
27 April 2010
Um filme simpático e mordaz, que nos consegue divertir enquanto revela o quão complicada pode ser uma ligação amorosa e o quanto complexas são as relações humanas, tanto sociais, como familiares. Uma comédia romântica com um pouco mais de drama do que habitualmente, onde é esmiuçada a reciprocidade terapeuta/paciente e a maturidade se encontra onde menos seria de esperar.

Ben Younger, o realizador e argumentista nova-iorquino que havia surpreendido com "Dinheiro Quente", volta a demonstrar uma séria aptidão para abordar a juventude a partir de pontos de vista inexplorados, desenvolvendo uma comédia inteligente sobre o quão caricata pode ser a conjuntura entre uma paciente e a sua psicoterapeuta a partir do momento em que sabemos que há algo mais que as envolve, mesmo que estas ainda o desconheçam… Esse algo mais é o recente namorado de uma que é o filho da outra, o qual teria sido uma excelente "Terapia do Amor" se fosse apenas um "boneco de trapos", não o "menino" querido da sua conservadora terapeuta judia.

Ainda muito "verde" e com amizades e costumes um pouco bizarros, este jovem cresce a cada dia enquanto a sua juventude é supostamente sugada por uma divorciada quase nos quarentas que se deixa envolver sem saber bem o que quer tirar deste relacionamento. O argumento está solidamente desenvolvido de modo a transformar toda esta situação, que chega a ser deveras dramática, num final feliz, mesmo sem este ser aquele a que todos estavam à espera, transformando a obra numa verdadeira lição de vida, onde algumas pessoas conseguirão se retratar sem dificuldade.

O facto de o realizador ser nova-iorquino deverá ter contribuído para a escolha as excelentes paisagens da cidade com que o espectador é frequentemente contemplado, sejam estas diurnas, como o passeio no Central Park, ou nocturnas, como as vistas aéreas sobre as grandes avenidas com os iluminados arranha-céus como pano de fundo. Uma boa cinematografia foi também fundamental para que estas imagens pudessem ter o devido destaque, mais um factor a favor deste filme que apenas carece de uma banda sonora com outro poder persuasivo, por forma a envolver ainda mais a assistência.

O elenco foi bem seleccionado e, se em "Dinheiro Quente" tínhamos uma forte componente masculina, com Giovanni Ribisi e Vin Diesel como protagonistas, aqui o destaque é feminino, com as colossais Uma Thurman ("Gattaca") e Meryl Streep ("Podia-te Acontecer") nos principais papeis, eclipsando os demais, onde se inclui o actor principal, o agradável Bryan Greenberg ("Noivas em Guerra"). Thurman exibe todo o seu potencial sensual sem qualquer recurso à nudez, passeando glamour do primeiro ao último minuto (convém aqui reconhecer o desempenho da figurinista).

Em "Terapia do Amor"o estrelato pertence a Thurman, no entanto, Streep delicia e volta a confirmar o que já há muito havia confirmado – ser uma das melhores actrizes de todos os tempos, se não mesmo a melhor! Certos detalhes do argumento proporcionam ao filme alguma singularidade, tais como as hilariantes imagens da avó a bater com a frigideira na cabeça, o bizarro costume do bolo na cara das raparigas insatisfeitas (e não só!), ou mesmo o facto de o engano acontecer por a terapeuta usar o seu apelido de solteira e não o de família...

Este é um filme engraçado de se ver, no qual o amor, a religião, a família, os amigos e o trabalho, entre um vasto conjunto de elementos, se conjugam, para proporcionar uma obra com tanto de divertida quanto de séria, que, ainda assim, foge ao previsível e acaba por nos surpreender quando o obvio parecia já inevitável
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10/10
Tocante e poderoso, uma obra de arte enternecedora
27 April 2010
Warning: Spoilers
"Spirit – Espírito Selvagem" é um filme que revoluciona o cinema e que dá cartas em todos os campos em que possa ser alvo de comparação, começando por um argumento muito bem delineado com base factual, uma banda sonora envolvente que melhor é impossível, vozes minuciosamente escolhidas (versão original) que autenticam as personagens, um espanto de cor e grafismo que nos conduz numa aventura com o herói principal, e uma deliciosa realização que merece uma enorme salva de palmas quando se termina de ver esta obra de arte… "Spirit" é isso mesmo, um filme em tudo sublime que mais parece uma peça de arte, de tanto amor e empenho que foi depositado na sua elaboração!

Comecemos pelo enredo – delicioso! Conta-nos de um modo subtil uma das muitas invasões do homem pelo mundo natural, o que ainda hoje continua a ter lugar... Até quando?! Esta é uma mensagem inerente nesta história do velho Oeste americano, dos finais do Século XIX, altura em que os pioneiros dos caminhos-de-ferro desbravavam terreno com o intuito de unir os Estados Unidos de Atlântico a Pacífico e de Norte a Sul. Não faltam os índios nativos ou a famosa Cavalaria, mas "Spirit" vai mais além, conta-nos como uma família de cavalos vê o seu habitat ser invadido por seres desconhecidos com estranhos engenhos e costumes e a forma como tudo na sua vida se altera focada no quotidiano do seu líder, um garanhão a quem deram o nome de Spirit.

Iniciamos por assistir ao nascimento do mustang Spirit num contexto musical/visual de arrepiar a espinha, o que nos captura na sua personagem; de seguida vemo-lo crescer num tom extremamente divertido que nos apaixona; depois observamos como é protector e como toma a liderança da família a sério, defendendo-a de todos os perigos, o que conquista o nosso respeito. A partir deste momento as suas emoções são nossas, sentimos cada arranhão e parece que as suas cordas são grilhões à nossa volta; rejubilamos com as suas conquistas, sofremos quando é capturado e simplesmente adoramo-lo!

Spirit partiu contrariando a mãe em busca de explicações para estranhas luzes por entre o arvoredo. Viria a ser capturado após longa resistência mas não se deixou montar ou marcar a ferro quente, libertou-se com a ajuda de um índio caricato que logo voltou a fazê-lo cativeiro num jogo de emoções sem explicação. Apaixonou-se por Rain, uma égua malhada sem igual, rendeu-se e lutou pelos seus novos amigos humanos mesmo sem conhecer muito bem a espécie; sentiu a dor, viu-se fraco e ergueu-se como um líder, conduziu uma rebelião que resultaria na perda de uma locomotiva e libertou os seus de um pesadelo anunciado que chegara de repente e os condenaria à submissão e sevícia. Demonstrou ser digno da liderança que outrora lhe adjudicaram e mais do que o orgulho da mãe, tornou-se o orgulho da espécie e o herói de todos os que tenham o privilégio de assistir a esta obra-prima.

A realização é fabulosa, os peritos em arte animada, Kelly Ashbury e Lorna Cook, que muito deram de si a alguns dos maiores sucessos de animação das últimas décadas, como "Shrek" e "A Bela e o Monstro", fugiram ao padrão de atribuir poder de fala aos animais, sem prejuízo da fluidez do argumento, antes pelo contrário. Matt Damon conferiu uma toada simpática à personagem principal (enquanto narrador na primeira pessoa), ao passo que James Cromwell primou na voz do coronel da Cavalaria.

O mestre germânico Hans Zimmer, responsável por bandas sonoras como "Rei Leão" e "Melhor É Impossivel", volta a atingir a perfeição com um trabalho que perdura no ouvido. Não atrás fica Brian Adams, com letras e canções escritas a rigor para enquadramento com a acção do filme, assim como o argumentista especializado no género western, John Fusco, que a partir de uma ideia de Steven Spielberg desenvolveu um enredo notável, que, em conjunto com todo o resto, proporcionou a "Spirit" a nomeação para o Óscar de melhor filme animado de 2003 e aos Globos de Ouro do mesmo ano enquanto melhor canção original com o tema que nos apresenta o mustang, "Here I Am".

Delicioso e comovente ao ponto de nos trazer as lágrimas aos olhos, este é um filme que ultrapassa a animação, tornando-se numa aventura para toda a família, uma lição de história e um exemplo de coragem. Excelente do primeiro ao último minuto, oito anos volvidos, e com a tecnologia a evoluir muito mais na animação do que em outros campos do cinema, continuo a dizê-lo sem quaisquer dúvidas: "Spirit" é o melhor filme animado que alguma vez vi e deve continuar a sê-lo por muitos e longos anos… Incomparável!
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8/10
Tarantino + Rodriguez + a malta do costume = Insólito e bestial, como sempre!
11 April 2010
Warning: Spoilers
Trata-se de um filme no limiar do terror, dominado pela acção, onde o espectador é surpreendido pela drástica metamorfose de um para outro género, ou não fosse fruto de dois "génios loucos" do cinema, Quentin Tarantino (ambos os "Kill Bill") e Robert Rodriguez (trilogia "El Mariachi"), cuja fusão viria a originar obras de culto como "Cidade do Pecado" e o conjunto "Grindhouse", aqui numa das primeiras vezes que colaboraram, produzido por ambos, realizado por Rodriguez e protagonizado por Tarantino.

Todo o filme está envolto numa atmosfera pesada; perfeitamente desenvolvida com recurso a uma banda sonora dominada pelo "metal", com intérpretes como "Tito & Tarantula" e "ZZ Top", que conjuga perfeitamente com a concepção road-movie que está patente do primeiro ao último minuto. Os locais de filmagem (EUA e México) permitem focar única e exclusivamente o objecto central da imagem, ou seja, a realização valeu-se de localizações isoladas, de fácil percepção sem que o espectador tenha de desviar o olhar para entender a contextualização. Não é pois só o bar que se destina a motoqueiros e camionistas, toda a obra é um hino a este tipo de cultura, onde não faltam os excessos, o álcool e, claro, o sensual striptease!

O argumento é muito criativo, todavia, longe de estar perfeito. Se é verdade que é ele que garante a singularidade do filme, tornando-o único, também é devido à sua irregularidade que não atingiu outros patamares. Há situações em que o espectador sente que lhe estão "passar a perna", e, se uma ou duas podem até ser perdoáveis, outras não são de todo, especialmente quando há duas lacunas graves nos últimos cinco segundos. Neste caso, não há pirâmides astecas logo poucos quilómetros após a fronteira mexicana e, ainda que as houvesse e tudo a elas fosse devido, em tanto tempo ninguém tinha dado pelas centenas de camiões que ali tinham sucumbido, nem pela falta dos tripulantes… Para além do mais, se é um local mítico e de culto entre estes vagueantes, como se pode ter tornado nisso se quem lá chega de lá já não sai?! Mortos não espalham elogios nem sensações!

O estilo de gozo que é característico dos filmes desta dupla, que consegue fugir à comédia sem nunca abdicar dela, está bem patente ao longo do filme, conhecendo contornos excêntricos mas excepcionais na arma de "Sex Machine" (hino a "Desperado"), ou na apresentação para todos os gostos do "Titty Twister". As falas sarcásticas, que volta e meia marcam presença, são também disso exemplo, na verdade, este é um filme sério, mas tão catita que por pouco escapa a destinar-se a maiores de 12.

O enredo baseia-se na fuga de uma dupla de assaltantes recém evadidos que atacaram um banco e circulam pelo Texas rumo ao México, carregando o saque e deixando um rasto de sangue; no lugar errado e na hora errada cruzou-se uma família de viajantes de auto-caravana da qual se tornaram forçosamente inseparáveis. O lugar do encontro com um facilitador de fugas mexicano está marcado para o apelativo "Titty Twister", um bar no meio do nada que está aberto até de madrugada e serve "pratos bem apimentados". Nunca chegamos a perceber se há complot entre guarda fronteiriço, relações-públicas e gangster, todos interpretados por Cheech Martin, como que se um facilitasse a passagem e outro organizasse fugas por ali, de propósito para angariar clientela fresca… Esta é uma duvida à qual sorrio; sabe sempre bem um misteriosito…

Os efeitos especiais são de uma ambiguidade extrema, embora predominem os de elevada qualidade, por vezes fica a sensação de que o rigor foi esquecido e estamos a ver um filme igual a tantos outros (mesmo assim, são um luxo quando comparados com os das duas sequelas entretanto realizadas, aliás, todo o filme não se compara). O rigor na articulação efeitos/argumento também não é completamente eficaz; exemplo disso é Tarantino, com um furo de dois centímetros de diâmetro na palma da mão, continuar a articular todos os dedos como se nada fosse… Ou ficar de imediato com a mão toda homogeneamente ensanguentada, como se tivesse mergulhado o punho num alguidar de sangria!

O elenco é fantástico e abundam nomes sonantes de então e de hoje, não faltando a diva de Rodriguez, a mexicana Salma Hayek ("Frida") e o seu actor talismã, Danny Trejo (trilogia "Spy Kids), espinha dorsal da trilogia, único a integrar os 3 filmes e elo de ligação entre eles. George Clooney ("Syryana"), Harvey Keitel ("O Piano"), Juliette Lewis ("Grito de Revolta"), Tom Savini ("Zack e Miri fazem um Porno") e Cheech Martin ("Paulie") são outros nomes de destaque. Este último, também habitual com Rodriguez, protagoniza três personagens, a segunda delas numa interpretação de arregalar a vista.

Clooney (então quase desconhecido) é o actor principal, um assaltante simpático cujo maior defeito é fazer-se acompanhar pelo irmão (Tarantino), assassino compulsivo com tara sexual. Keitel é um viúvo, ex-pastor, agora sem fé, que "acredita no pai Natal" e está disposto a fazer tudo para garantir a segurança dos seus filhos, um jovem achinesado (o efémero Ernest Liu) e a escaldante Lewis, noutro papel que recheia uma carreira dominada pelos de cariz provocante, quando não pior... Hayek é a dançarina satânica envolta numa cobra gigante, um poço de tentação que é também a origem dos tumultos. Trejo é o barman de serviço, especialista em doses forretas com requintados complementos; Savini é "Sex Machine", um cliente especialmente apetrechado que se junta à liga de sobreviventes por tempo limitado; e Martin interpreta um guarda fronteiriço, o relações públicas do bar e um gangster mexicano especializado no apoio a fugas de criminosos para garantir parte do saque.

Este é um filme singular, tentador, que não sai da memória de quem o vê! Um marco na fusão do cómico, com a acção e o terror, conjugando uma espécie de thriller com ingredientes para agradar a todos os gostos. São 100 minutos diferentes uns dos outros, mas de um modo geral muito saborosos… Para ver, de olhos abertos até de madrugada!
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Black Book (2006)
10/10
Roça a perfeição, é quase tão bom quanto "A Vida é Bela"!
6 April 2010
Warning: Spoilers
O realizador Paul Verhoeven apresenta-nos aquele que é o seu projecto mais intimo, a obra que toda uma vida desejara e que guardou para uma fase final da sua carreira, culminar de um currículo notável, onde se incluem alguns dos mais célebres filmes de todos os tempos, casos de "Instinto Fatal" e "Robocop", e que incluí também obras de qualidade reconhecida, como "Desafio Total" e "Soldados do Universo", alem de filmes mediáticos mas não tão bem conseguidos, casos de "O Homem Transparente" e "Showgirls".

Este é um filme de corpo e alma holandês. Retrata um capítulo da história do país e do mundo, foi realizado por um holandês, escrito por outro (Gerard Soeteman, repetente enquanto argumentista de filmes de Verhoeven), protagonizado por compatriotas, falado no idioma natal e filmado maioritariamente no país. O capítulo é negro, muito negro, mas o resultado da obra é fenomenal; trata-se de uma reconstituição do último ano da ocupação nazi, desde a derradeira perseguição aos judeus, o combate com as forças da resistência e a rendição com o acordo da retirada e chegada das tropas aliadas canadianas.

As representações são um deleite, Carice van Houten ("Valquíria") enche o ecrã numa interpretação deliciosa e exigente de uma cantora judia em fuga, que assiste ao assassinato da família e que sacrifica a sua integridade em nome da liberdade. O alemão Sebastian Koch ("As Vidas dos Outros") interpreta uma alta patente nazi que revela o seu lado humano e procura apaziguar os massacres do holocausto; Thom Hoffman ("Dogville") é o vira-casaca que nos contagia e desilude; Halina Reijn ("Valquíria") surpreende num papel atrevido com um toque de mistério; Waldemar Kobus ("Speed Racer" e "A História de um Empregado de Mesa") é o perfeito mau da fita, ganancioso e sem sentimentos; e Christian Berkel ("Valquíria" e "A Experiência") é o rigoroso general que cumpria à risca as ordens de Hitler, mas que impunha a isenção entre os seus. Estes são os actores principais, além deles há todo um universo de secundários e figurantes, todos numa interpretação imaculada, bem conduzida e que marcará uma carreira.

A variedade de projectos do realizador terá, por certo, contribuído para a qualidade dos efeitos especiais, bem como cenarização, figurino e caracterização. Tornou-se claro que o que importou foi o resultado final da obra, não a dificuldade a cada passo. Os actores são exprimidos ao extremo (nudez frontal, por exemplo) e a realidade das cenas é tal que o espectador sente cada tormento e cada alegria com uma intensidade fora do comum. A filmografia é excelente e a banda sonora é também ela aprazível, num filme que nos regala pese embora a dureza do tema e que deu muito que falar em Veneza 2006.

O argumento, co-escrito por Verhoeven, encaixa na perfeição, numa articulação muito complicada de conseguir, uma vez que a realidade está em constante alteração - o que agora é daqui a instantes deixa de o ser e a nossa protagonista está numa permanente agonia, por melhores que sejam as perspectivas nunca se concretizam. As mudanças são uma constante, os choques de animo também e o espectador é bombardeado de emoções, ora de alegria, ora de desalento, sempre torcendo e seguindo os passos de Rachel Stein, que personifica um de entre todos os mártires do holocauso, representando-os a todos. "Livro Negro" é um filme em que cada minuto é tão singular que quem perder um único pode ter perdido todo o filme; uma obra que só se resolve no último segundo e que nos faz olhar à nossa volta de uma forma que chega a ser perturbante.

Um filme de grande complexidade, sobre amor, traição e vingança, produzido com rigor e realizado com paixão por um dos mestres mais ignorados do último quarto do século passado, como prova a não nomeação aos Óscares de 2007, pelo menos como "Melhor Filme de Língua Estrangeira". Um filme obrigatório, inesquecível e que choca de tão real. Uma aula de história em duas horas que não custam a passar; um marco do cinema moderno! O supra sumo de Paul Verhoeven
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10/10
Benvindo a uma obra-prima, de rir e chorar por mais!
5 April 2010
Warning: Spoilers
O trailer havia despertado o interesse e a hora e meia de surpresa e constantes gargalhadas confirma-o como um dos melhores filmes que alguma vez vi (Top 100) e uma das melhores null de sempre (Top 10) onde rivaliza com outro compatriota: "Jantar de Palermas"!

Este é um grande filme, um filme onde o espectador assiste a uma comédia que tinha tudo para ser reservada a um nicho específico (o público francês, em especial o da zona norte), mas que saiu melhor do que a encomenda, ultrapassando as fronteiras do país e acabando por ser perfeitamente perceptível a quem quer que o esteja a ver, seja onde for e para todas as idades.

Trata-se de uma comédia ligeira, séria, feita com muito rigor e que conjuga o estilo cinema postal com a sátira à pronúncia e modo de vida dos denominados "Xtis", habitantes do extremo norte gaulês, região de Lens e Lille, Nort Pas-de-Calais, no filme personalizados pela população da pitoresca Bergues, antiga aldeia mineira nos arredores de Dunkirk.

Dany Boon, também ele "Xti", imaginou, escreveu, realizou e protagonizou esta obra-prima que está entre os filmes obrigatórios da última década, e dedicou-a à mãe, segundo as suas próprias palavras, uma "Xti" incorrigível. Ser "Xti" é muito mais do que ser um habitante do norte de França, até porque nem todos os nativos utilizam este dialecto, chamemos-lhe assim. Sê-lo é alterar pronúncias, redefinir expressões e criar substantivos alternativos num verdadeiro código de descodificação particularmente difícil até para os seus compatriotas, e, neste filme, é gargalhada certa.

A todo este universo que envolve o dialecto local, juntemos uma ideia generalizada, por parte dos habitantes do sul da pátria de Napoleão, de que o norte é uma zona inóspita, onde os dias são minúsculos e o frio a rondar os limites da habitabilidade; onde quem por lá mora não tem dedos nos pés (de tanto frio suportar)! Juntemos-lhe uma suposta falta de hospitalidade e costumes bizarros e o nosso protagonista, o pseudo-deficiente Philippe, destacado para gerir a estação de correios local, tem tudo para se mudar para o inferno!

Mas não, as baixas expectativas depressa são goradas, Philippe é acarinhado pelos colegas e encontra o perfeito refúgio para desanuviar da depressiva Julie, sua esposa, que anseia pela sua colocação mas na glamourosa Cote D'Azur, não no "tormento" do norte! Os preconceitos revelam-se isso mesmo, meros preconceitos, as gentes são afáveis, os costumes divertidos e até a pronuncia acaba por ter a sua graça. Agora ele "está nas sete quintas", mas conseguirá ele permanecer muito mais tempo?!

O espectador é envolvido e contagiado pelo quotidiano de Philippe e seus comparsas, sentindo na pele cada façanha, cada susto e cada momento de ternura que os envolva. Antoine é o mais chegado mas chegou a provar da hostilidade do novo chefe, muito por culpa de um pequeno mal-entendido que o fizera passar por homossexual. Na verdade este é, também, um filme sobre a amizade, sobre jantares e almoços de colegas, aventuras e paixões, que culmina com um véu de história de amor ao som de Stevie Wonder, quando o improvável acontece e o "pacóvio" Antoine casa com a irresistível Annabelle.

"Bem-Vindo ao Norte" é um filme inesquecível, que está a ser adaptado para outras situações convergentes, como bem podiam ser as do nosso próprio Portugal ou a diferença entre Escoceses e Ingleses no Reino Unido; fala-se concretamente de uma adaptação italiana e outra hollywodesca com a colaboração de Will Smith, prevista para 2013. Uma obra simples na qual todos nos podemos retratar numa ou outra personagem, talvez por isso, tenha sido o maior sucesso de bilheteira de todos os tempos para um filme francês.

Obrigatório é pouco, este é um filme que quem ainda não viu não sabe o que perde
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7/10
Entretém, mas o todo é inferior à soma das partes!
30 March 2010
Este é um daqueles filmes que foi muito aguardado pelo simples facto de ter os mestres de artes marciais Jackie Chan (trilogia "Hora de Ponta" e "À Procura do Bebé")e Jet Li ("Força Destruidora" e bloco "Era Uma Vez Na China") a contracenaram juntos pela primeira vez e, curiosamente, a lutarem pela mesma causa, ao contrário do que somos de imediato levados a pensar. Pese embora ambos tenham personagens muito pitorescas e até caricatas, a verdade é que o espectador fica um pouco desiludido, não só com as suas somente aceitáveis interpretações, como com o facto das suas figuras serem ofuscadas por outras mais fortes, quer em destaque, quer mesmo pelas características visuais que lhes são atribuídas (não em questões de força ou de poderes sobrenaturais).

Esta aventura de sábado á tarde, dirigida pelo especialista em entretenimento familiar Rob Minkoff (realizador de "Rei Leão" e dos dois primeiros da trilogia "Stuart Little"), transporta o espectador numa viagem no tempo até à China ancestral, onde o objectivo é a libertação do acarinhado Rei Macaco (um dos dois papeis desempenhados por Jet Li). A viagem ocorre como que por artes mágicas a partir da Boston, Estados Unidos, que hoje conhecemos, num vaivém um pouco ou quanto "nublado" (provavelmente contagiado por "Jumper", apresentado ao mundo meses antes), daí que o enredo, adaptado de um clássico da literatura chinesa, pelo especialista no género aventura, John Fusco (argumentista de "Hidalgo" e do nomeado aos Óscares "Spirit"), não seja nada de por ai além, chegando até a parecer um pouco descuidado e com articulação forçada. As personagens foram adaptadas de uma série de lendas locais nas quais também o culto "Dragon Ball Z" se inspirou.

O estilo da apresentação inicial procura seguir a tradicional linha dos anos 80 dos irmãos Shaw, aliás, todo o filme está marcado por uma série de referências aos mais diversos ícones deste género. A cinematografia do oscarizado Peter Pau ("O Tigre e o Dragão" e "Atirar a Matar") é muito agradável, bem como a maior parte dos locais de filmagem, em especial as passagens do deserto de Gobi (quase toda a obra foi filmada na China, mesmo as cenas de estúdio).

As coreografias de acção estão bem conseguidas, ou não fossem estas da responsabilidade de Woo-ping Yuen (trilogia "Matrix" e ambos os "Kill Bill"); este costuma ser este um dos pontos fracos em grande parte dos filmes que se fazem dentro do género, contudo, em "O Reino Proibido" o todo é mais fraco do que a soma das partes, não se chegando ao certo a saber porquê, ficando, muito provavelmente, a dever-se à expectativa que se criou por enfim se conseguir ter estas duas lendas asiáticas das artes marciais numa mesma obra, tal como quando em "A Dupla Face da Lei" a desilusão foi igual ou maior ainda, filme em que se voltaram a juntar os históricos Robert De Niro e Al Pacino, que, ao fim de quatro décadas a fazerem sucesso em policiais, contracenaram apenas pela segunda vez ("Cidade Sob Pressão" em 1995 - haviam participado em "O Padrinho 2" de 1974, todavia, nunca surgindo no mesmo plano, dado o desvio temporal entre a contextualização de cada um).

Os efeitos especiais são um bom cartão de visita nesta história de resgate que custou 55 milhões de dólares, capazes de, em conjunto com a acção bem conseguida, fazerem as delícias de espectadores menos exigentes, desviando a atenção daqueles que são os calcanhares de Aquiles: o pobre argumento e o fraco desempenho da realização e dos protagonistas, onde também se inclui o viajante Michael Angarano ("Quase Famosos" e "Escola de Heróis"), em minha opinião, um dos maiores erros de casting da história da sétima arte, não por ser mau actor – que não é – mas por ser muito tenro e pouco presencial para um papel em que se exigia um estilo e imagem menos "Karaté Kid". Excepção nas interpretações para a praticamente desconhecida Bingbing Li, no papel da inesquecível bruxa Ni-Chang que, tal como meio mundo, procura o acesso a um elixir da eterna juventude; dotada de uns cabelos inigualáveis, tanto pelos seus poderes, como pela sua cor branca, ainda bem mais contagiante que a de "Storm" (Halle Berry) da trilogia "X-Men", ela é o maior obstáculo ao triunfo do bem.

Resumindo, temos um realizador de primeira, um argumentista consagrado, um director de cinematografia de renome, um coreógrafo de elite, efeitos especiais de topo, actores dotados e um filme pouco acima do razoável, sendo que, com uma equipa assim, mais do que podia, devia mesmo ser melhor!
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9/10
Delroy Lindo no papel da sua vida num filme tocante, revoltante e enriquecedor!
24 March 2010
Warning: Spoilers
"Jogo de Conflitos" é um filme marcante, com uma interessante variedade de temáticas profundamente desenvolvidas no argumento, uma produção bastante aprumada e um conjunto de actores que se apresentam a um nível bem aceitável.

Não chegamos a perceber qual é o tema principal neste drama escrito e realizado pelo inglês Paul Morrison, responsável por "Salomon and Gaenor", nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2000. Trata-se de um misto entre o desporto criquete, o retrato ao estilo de vida judaico, a exclusão social e o racismo propriamente dito.

Toda a produção foi muito bem conseguida, com os cenários, as roupas e até os automóveis a conseguirem fazer-nos viajar até ao que imaginamos ter sido a cidade de Londres dos anos 60, onde uma sociedade laboral procurava manter as tradições, continuando muito reservada quanto a cedências a novos habitantes. São estas faltas de tolerância que minam o dia-a-dia das duas famílias em que a obra se centra, uma de judeus em ascensão a procurar desfazerem-se das mazelas do holocausto; outra de jamaicanos que após anos separados do chefe de família procuram começar do nada numa civilização que repudia o seu tom de pele…

Com a chegada dos negros os judeus (até então a vistos com maus olhos) deixaram de ser a preocupação da vizinhança e até a serem aceites, contudo, quando a proximidade entre estas duas famílias começa a ser clarividente, ambos recebem permanentes ameaças que culminam com um trágico incêndio que acaba por ser tão destrutivo como apaziguador, contribuindo para o quebrar dos grilhões que vedavam a sua integração, numa verdadeira manifestação de redenção, solidariedade e compaixão humana.

Esta é também a história de um fanático adepto de criquete que dominava qualquer assunto com este relacionado excepto a sua prática, mas que com a ajuda dos vizinhos e o apoio dos seus parentes se tornou num atleta reconhecido entre os seus. É também a história de uma jovem dona de casa sem tempo para crescer que procura o consolo que não encontra no seu lar, assim como de um pai de família mais preocupado com o bem estar dos seus do que consigo próprio e de toda uma amizade multirracial que comprova que é possível vivermos todos em harmonia.

Delroy Lindo ("O Resgate" e "Força Explosiva") tem uma das performances da sua vida, ao interpretar vigorosamente um jamaicano civilizado, com sólidos valores, tanto sociais como familiares. Contracena com um conjunto de actores de segundo plano que conseguem prestações bem positivas, num filme onde até os poucos efeitos especiais são agradáveis, refiro-me ao cromos "vivos" que a espaços vão surgindo e que num plano final transformam o ecrã num mar de janelinhas animadas, conferindo-lhe um aspecto de fantasia.

Um bom drama racial em plena sociedade aberta. Uma obra corajosa, bem conseguida e que até se pode dizer que tem um final feliz, deixando o espectador satisfeito após hora e meia com muita tensão e revolta. "Depois da tempestade vem a bonança!" – Confirmou-se! Confirme você também!
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A Bear Named Winnie (2004 TV Movie)
7/10
O verdadeiro diário de Winnie the Pooh – Na Guerra também há histórias bonitas!
18 March 2010
Warning: Spoilers
Realizado pelo muito experiente John Kent Harrison, especializado em telefilmes ("Helena de Tróia" e "Papa João Paulo II"), "A Extraordinária Aventura da Ursinha Winnie" é um filme onde sobressaem o excelente trabalho de direcção dos animais e a beleza tocante do argumento, sendo que todo o resto é bem comum - cinematografia, sonoridade e até mesmo o desempenho do mais sonante membro do elenco, o britânico David Suchet ("A Toda a Prova" e "Antes que a Morte os Separe"), um rosto já demasiado indissociável da personagem de Hercule Poirot.

O filme, para além do seu interesse histórico (por retratar uma passagem verídica por altura da Primeira Grande Guerra) e do encanto de ser filmado, quase integralmente, com animais, conta com a magia de nos conduzir numa viagem às origens daquele que é hoje um dos maiores ícones da pequenada, o ursinho "Winnie the Pooh" (que afinal é uma ursinha). Miúdos e graúdos são obrigados a render-se à ternurenta personagem que involuntariamente passa a fazer parte da divisão veterinária de Winniepeg do exército canadiano, acabando por partir com este para uma Europa perturbada.

Para salvá-la da guerra, aquele que desde sempre fora o seu protector acaba por a entregar aos cuidados do Zoo de Londres, onde Winnie, já perfeitamente domesticada, sente falta dos afectos humanos e só por acaso sobrevive a um final trágico, uma vez que um urso não era suposto conviver com os visitantes, contacto sem o qual não sobreviveria. Aí, no Zoo de Londres, Winnie foi visitada por Christopher e seu pai, A. A. Milne, autor dos lendários contos, o qual decidiu "adoptar" a sua imagem ternurenta e sociável, atribuindo-lhe ainda uma enorme paixão por mel por sugestão da imaginação do seu filho.

Este é um filme para toda a família; uma lição de compaixão que tem como pano de fundo um dos mais negros episódios da humanidade. Não se compreende a sua fraca divulgação, até porque o trabalho com os animais está bem acima da média e não deve ter sido tarefa fácil. De um restante elenco com prestações nada por ai além, destaca-se a presença do ascendente Michael Fassbender ("300" e "Sacanas Sem Lei") e do nomeado aos Globos de Ouro, Stephen Fry ("Wilde" e "Alice No País das Maravilhas").

A ver, numa tarde de Domingo, com bastantes pipocas e biscoitos da avó, acompanhados por chocolate quente ou limonada fresquinha, receita para um fim-de-semana bem passado!
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Somersault (2004)
7/10
Arrojado retrato de uma juventude errante
17 March 2010
Warning: Spoilers
"Salto Mortal" é um filme muito arrojado e com fortes probabilidades de ferir os sentimentos de quem tem filhos, especialmente raparigas, uma vez que o tema principal é uma viagem a uma juventude perturbada, com problemas afectivos, de auto afirmação e até de identidade, que conduzem a uma dependência e uso extremo do sexo como se a intimidade fosse uma moeda ou um simples aperto de mão.

Heidi é uma jovem na fronteira da maioridade que tem ciúmes da mãe e cuja prática sexual é para si um acto sem qualquer relevo, servindo-se dele para obter o que quer que deseje. A vida corre-lhe mal depois de um acto irreflectido a ter colocado em ruptura familiar e em fuga pela Austrália. As suas "amizades" não funcionam mas parece não se aperceber disso; em vez de enfrentar a dura realidade que a vida lhe reservara prefere penetrar numa vida errante de onde uma luz tarda em aparecer.

Irene estende-lhe uma mão mas Heidi agarra o braço; Joe nutre sentimentos mas quer descobri-la antes de se comprometer a sério, sente-se pressionado e apenas a espaços vai correspondendo. Heidi está perdida, o sexo e a mentira são o seu prato favorito, mas engana-se quem pensar que ela os usa para se sustentar, pois um emprego num posto de abastecimento de combustíveis veio acalorar a esperança num futuro risonho; lá conhece Bianca, uma rapariga modelo que aos poucos se torna amiga, todavia, quando a verdade vem ao de cima depressa entram em colisão e até o próprio patrão não anda satisfeito com o demasiado há vontade da protagonista.

O descalabro está à distância de uma bebedeira e do consumo de estupefacientes. Joe irrompe no último instante e evita que Heidi seja o fruto de uma orgia com desconhecidos, mas este foi o seu último acto de compaixão, ela não mostra ser digna e as dúvidas converteram-se em certezas. Esperanças goradas resta à jovem o encarar da realidade, na qual o amor de mãe revela ser mais forte que tudo, e melhor ainda, o perdão e o abraço de saudade…

Um forte destaque para o desempenho de Abbie Cornish ("Candy" e "Um Ano Especial") no papel princípal, naquele que foi o filme que deu projecção a um dos actores do momento, o inglês Sam Worthington (no papel de Joe), protagonista do mediático "Avatar" de James Cameron e preponderante em "Exterminador Implacável IV". Boa fotografia e locais de filmagem suavizam um argumento pesado, num singelo postal de uma Austrália desconhecida (arredores da capital Camberra), onde a neve substitui o árido das planícies.

A Austrália rendeu-se a este drama juvenil que levou sete anos a ser tornada realidade e que rompeu todos os recordes internos, tendo arrecadado 13 prémios do Australian Film Institute, tantos quantos fora proposto (no total eram 15 nomeações, mas duas delas nas mesmas categorias). Um filme muito interessante, escrito, produzido, realizado e interpretado com coragem, que é tudo menos bonito, mas muito frontal, facilmente contextualizavel na fútil sociedade actual, onde o pecado já não mora só ao lado! A ver, com cuidado
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7/10
Um medicamento experimental com resultados em 73 minutos de ilusão
17 March 2010
Warning: Spoilers
Neste filme onde pouco é o parece, o espectador é por diversas vezes ludibriado, isto num bom sentido, uma vez que o que pretende quem se senta na cadeira é um mar de surpresas e sensações. De facto, o argumento deste thriller psicológico a roçar o género terrorífico é construído a partir de um conjunto de ilusões que mais não são do que a transposição para o ecrã de toda uma vivência do ser humano quando medicado com uma determinada droga experimental, cuja aplicação em humanos era absolutamente proibida, dados os maus resultados dos testes laboratoriais efectuados em ratos.

O fármaco foi auto-aplicado na pouco ética Dra. Samantha com o intuito de parar o desenvolvimento de um tumor cerebral maligno, contudo, esta médica trintona que desenvolvia trabalhos na área do controlo comportamental, entra num ciclone de ideias e, quando confrontada com uma situação de stress emocional, perde o controlo por completo. A partir daqui cresce todo um historial de violência…

Destaque para uma realização arrojada de Paul Fox naquele que é o seu maior sucesso até à data (03/2010), apresentando-nos excelentes planos e imagens contagiantes (especialmente as exteriores com neve). O departamento de arte, bem como o de afeitos especiais e o de caracterização também trabalharam muito bem, proporcionando uma boa contextualização das partes mais terroríficas, como aquela em que a actriz principal corta o seu próprio dedo mindinho com um alicate comum.

Desempenhos agradáveis de um leque de actores de segundo plano (Kate Greenhouse sobressai no papel principal), bem como boa cinematografia e locais de filmagem cativantes (Ontário, Canada), completam este filme que apenas deixa a desejar em termos de banda sonora e sonorização. No âmbito geral é um filme que merece ser visto, até porque não demora mais de 73 minutos úteis e tem como bandeira uma séria de títulos internacionais, como o de melhor argumento canadiano (para o desconhecido Wil Zmak) e o de melhor filme no Festival de Cinema Terrorífico realizado em Nova York.

A ver de noite, num dia de neve em que o sono não permita que se opte por um filme que se prolongue. É capaz de o manter desperto por mais tempo do que o necessário; corre sempre esse risco!
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Waiter (2006)
7/10
Uma viagem ao íntimo do ser humano, ao âmago de um empregado de mesa!
7 March 2010
Este é um filme estranho, pesado, que acaba por ser interessante na medida em que pouco ou nada é o que se está à espera e saímos bastante surpreendidos nesta obra escrita, produzida, realizada e protagonizada por Alex van Warmerdam, uma figura notável do cinema holandês e europeu.

O multifacetado actor contempla-nos com um desempenho extremamente frio, marcante, de tal não é o favor em viver que nos revela passo a passo. Ele é Edgar, um empregado de mesa na casa dos 50 que trabalha para um restaurante de requinte onde a clientela é tudo menos agradável, incluindo Victoria, uma viúva ciumenta com quem mantém uma caprichosa relação extra-conjugal da qual está saturado.

Pouco se conhece das suas amizades, mas parece que Walter, interpretado por Jaap Spijkers ("As Gémeas" e "Karakter"), é o mais chegado. Colega de trabalho, acaba de ser pai, porém, os seus dias não andam muito tranquilos, o que tem perturbado o seu desempenho laboral. Walter enaltece as qualidades do companheiro, convida-o para ir jantar a sua casa e tem preparada para breve uma festa mistério para comemorar os 25 anos de Edgar como empregado de mesa.

Stella é a esposa de Walter, jovem e bela, nem precisa de se esforçar muito para conseguir ser objecto de desejo; Herman é um argumentista empenhado em conseguir um bom guião que, a espaços, vai-se deixando influenciar por Suzie, a companheira, cujas ideias são muito mais fluídas, protagonizada por Thekla Reuten ("As Gémeas" e "Em Bruges"); Richard, interpretado por Waldemar Kobus ("Valquíria" e "O Livro Negro"), é um criminoso engravatado que embirrou com Edgar e vai sugá-lo até ao tutano; e Makino, protagonizado por Togo Igawa ("O Último Samurai" e "Memórias de uma Gueixa") é um japonês foragido que Edgar se vê obrigado a alojar em sua casa sem saber ao certo porquê, o que sabe é que vai passar a dormir no sofá!

Na verdade quase todos são uma "marioneta", uns autómatos incapazes de tomar quaisquer decisões, num conjunto de situações que chegam a dar ao filme um tónico de realidade virtual que dá que pensar quando na verdade mais não é do que uma sátira ao quotidiano, às situações berrantes a que o ser humano se sujeita e à forma como certas pessoas apenas sobrevivem, deixando a vivência para os outros, tudo isto, demonstrado com uma realidade e violência brutais…

"A História de um Empregado de Mesa" é pois uma comédia negra que explora os empregos de que não se gosta; os amores impossíveis que consomem a alma; as relações há muito condenadas; os parasitas de uma sociedade que não oferece resistência; os sabichões que espezinham os oprimidos; os incorrigíveis vizinhos anti-sociais; a falta de inspiração e suas consequências, enfim, esmiúça uma realidade frívola a que tantos se acomodam!

O argumento acaba por funcionar bastante a ferros e não fossem as excelentes interpretações do elenco e a originalidade, quer das personagens, quer da forma como estas se enlaçam, o filme poderia ser um desperdício de tempo, o que não é. No final sentimos que durante hora e meia limitámo-nos a ser um empregado de mesa! Alto! Um empregado de mesa mas não de um restaurante qualquer… Um "Ober" de um restaurante primoroso!!!
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8/10
Duas grandes interpretações num filme que dá que pensar
5 March 2010
Warning: Spoilers
Este é um filme controverso na medida em que mais do baseado em factos reais (a historia verídica da alemã Anneliese Michel), ele reconstrói as vivências de um conjunto de pessoas sempre em redor do elemento principal, Emily Rose, sendo que o pretendido foi uma quase integral reconstituição dos factos, os quais ultrapassam o limite do cognitivo, encaminhando-se num sentido demoníaco e mesmo macabro.

Emily Rose era uma jovem crente de origem humilde, aluna promissora e deixara a terra natal para prosseguir os estudos universitários. Um certo fim-de-semana foi visitada pelo oculto; sentiu movimentos, um cheiro a queimado e acabou possuída pelo invisível, numa demonstração de poder sem igual. A partir daqui os seus dias nunca mais foram os mesmos, a alegria não mais voltou ao seu rosto e Emily perdeu o gosto pela vida. Embora pedisse apoio ao seu namorado, família e em especial ao pároco em quem muito confiava, a verdade é que não conseguia sequer comer e enfraqueceu até à morte, pese embora muita gente de tudo tenha tentado para a salvar.

O padre Moore, em último recurso e vendo que nada mais resultara, sugeriu que abandonasse a medicação e decidiu exorciza-la com a devida autorização da própria e dos seus superiores. A cerimónia não obteve os frutos desejados e, pouco depois, a jovem sucumbia sem que a causa de morte tivesse sido determinada com precisão. Mais pela decisão de a encorajar a abandonar os fármacos do que pelo exorcismo propriamente dito, Moore acabou detido e conduzido a um julgamento mediático que para além da sua posição, podia questionar o serviço religioso propriamente dito, pelo que obteve o suporte da arquidiocese que em troca exigia o seu silencio e pouca exposição do acontecido.

Para defesa do padre foi contratada Erin Bruner, uma advogada de elite, célebre por ter vencido alguns dos casos mais impossíveis e mediáticos. O superior de Erin, Karl Gunderson, pressionado pelos contraentes, a arquidiocese, pressiona as linhas condutoras que a lacaia recusa obedecer para sua cólera. Esta, tal como o próprio Moore, depressa é visitada pelas mesmas forças do mal, numa pressuposta tentativa de a levar a desistir do caso; contudo, encontrando forças para fazer frente, Erin não só não abdicou como transformou-o num dossier "pessoal" a que se dedicou de corpo e alma.

A defesa sente-se impotente, a perder o caso e Erin a sua reputação e até o próprio emprego. A busca de testemunhas credíveis ou de quem pudesse contrariar a acusação revelava-se infrutífera quando do nada surge um médico que estivera presente no momento do exorcismo (solicitara segredo) e que procurava esquecer a situação. Decidido, à última da hora, a partilhar a sua visão da experiência, acaba também ele por ser vítima das forças do oculto, levando-o mais uma vez a recuar e seguidamente a uma morte com tanto de trágica como de inexplicável. Agora, munida de uma cassete com a gravação áudio do acontecido, é tempo para o tudo ou nada! A partir daqui o melhor é ver o mesmo ver o filme…

A obra está muito bem conseguida, conta com actores de grande qualidade, tem excelentes efeitos visuais e o argumento funciona, numa mistura de terror com thriller psicológico e drama jurídico que nos convence e deixa muito que pensar. Não é um filme para todos, visto o teor visual e os conteúdos susceptíveis do enredo, mas certamente será um bom filme para quem procurar sensações fortes ou seja apreciador de terror religioso.

Em termos de interpretações destaque para dois nomes, Tom Wilkinson ("Michael Clayton" e "Shakespeare In Love"), irrepreensível no papel do padre Moore, e Jennifer Carpenter ("Quarentena") como Emily Rose, numa representação excepcional, especialmente no que toca às expressões faciais. A três vezes nomeada aos Óscares da Academia Laura Linney ("Mystic River" e "A Vida em Directo") esteve regular no papel da advogada de defesa, assim como, Colm Feore ("Cidade Dos Anjos" e "As crónicas de Riddick") enquanto seu superior. A realização do já minimamente familiarizado com o género terror, Scott Derrickson (escreveu "Mitos Urbanos 2" e realizou "Hellraiser V"), pode se considerar de aceitável, num trabalho que lhe proporcionaria a realização do remake do clássico "O Dia Em Que a Terra Parou", protagonizado por Keanu Reeves.

Este é um filme que nos marca e que continua a semear pavor na universidade onde foi filmado (fala-se de uma maldição), não está entre a elite do seu segmento, mas, mesmo assim, é uma boa escolha para ver numa noite de chuva… Provavelmente, depois, terá dificuldade em dormir!
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10/10
Obrigatório! Um exemplo de obra-prima
4 March 2010
Warning: Spoilers
"Grito de Revolta" é um perfeito retrato dobre o maior pesadelo da sociedade do final do Século XX, um filme que nos revela como se destruíram famílias um pouco por todo o mundo e como muitas vidas vãs se deterioraram aos pés do flagelo da droga, que continua a fazer vítimas!

Baseado na auto-biografia de Jim Carroll, cuja personagem é interpretada por Leonardo DiCaprio, este filme começa por nos mostrar como se perde a inocência e como é fácil o primeiro contacto com substâncias estupefacientes. O passo seguinte é o desenvolvimento da dependência, cujo auto-reconhecimento chega, quase sempre, tarde de mais e costuma ter associada a entrada no mundo da criminalidade, bem como a ruptura de laços familiares e sociais. Daqui até ao descalabro pessoal é um passo e o realizador (o quase desconhecido Scott Kalvert) mostra-nos tudo isso, assistimos à degradação de um jovem craque basquetebolista, que vê os seus sonhos voarem por entre um sniff de cocaína e uma injecção de heroína que quase lhe custariam a própria vida.

Do primeiro ao último minuto o espectador é "bombardeado" com um extremo realismo que chega a ser chocante, em especial porque todos sabemos de alguém que passou por situações similares, ou, simplesmente, porque antes da idade adulta todos passamos pela juventude… O filme deixa vincado que este martírio não escolhe idade, sexo, crença, raça ou extracto social, ao mesmo tempo que nos revela a existência de grupos de risco, o quanto muitos se aproveitam da desgraça dos outros para proveito próprio e como existe uma janela para que quem assim o desejar possa regressar à lucidez, apenas dependente de uma vontade infinita.

DiCaprio ("A Praia" e "Apanha-me se Puderes"), que acabara de se mostrar ao mundo em "Rápida e Mortal" (batendo-se entre os gigantes Sharon Stone, Gene Hackman e Russell Crowe) tem neste filme o desempenho que lhe valeu a ribalta e viria a proporcionar um lugar em "Romeu e Julieta" e "Titanic", entre tantos outros que se seguiram. Mark Wahlberg ("Quatro Irmãos" e "O Acontecimento"), embora talvez com músculos a mais para um personagem de 15 anos (tinha 24 na altura), mostrou que a sétima arte podia contar com ele ao liderar um gang de marginais do qual era o elemento mais violento. Destaque ainda para a excelente interpretação de Juliette Lewis ("Aberto Até de Madrugada" e "Starsky & Hutch"), enquanto prostituta toxicodependente que ao assistir à degradação dos outros encontrou forças para a sua própria libertação.

Passado e filmado em New York, numa contextualização do presente (1995) e não na data dos factos (anos 60), este é um filme que aborda também a amizade, a saúde, a doença, o amor materno e abuso de confiança, entre outros temas. O papel interpretado por DiCaprio era um desejo da também jovem promessa River Phoenix ("Fuga Sem Fim" e "Indiana Jones"), o qual viria a falecer um ano antes do início das filmagens, caricatamente vítima de uma falha cardíaca associada ao consumo excessivo de drogas. Felizmente hoje sabemos que DiCaprio seguiu caminhos diferentes, sendo um dos maiores nomes da actualidade.

Este é um filme obrigatório, especialmente como prevenção para uma juventude que continua exposta a este tormento que não escolhe vítimas. E há tantos predadores por ai…!
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8/10
Numa explosão de cor, um musical arrojado sobre um lado controverso da sociedade
4 March 2010
Não costumo ter paciência para filmes de promoção sexual, contudo, este desde sempre me havia despertado uma enorme curiosidade que acabou por se revelar justificável, dada a sua manifesta qualidade e irreverência, sem dúvida que não é apenas mais um filme sobre travestis…

Trata-se de um musical que passa ao lado da acusação de propaganda uma vez que quem assiste não se sente convidado a entrar no universo travesti ou em qualquer outro dos diversos que são revelados paralelamente, como o transexual, bissexual ou mesmo o da prostituição. "Chicago" continua a ser um musical acima de tudo; mesmo com o seu enorme lado criminal, corrupto ou mesmo promíscuo, não é por isso que passa a ser um filme de gangsters… Este é isso mesmo, complexo, mas um musical!

E que musical, a selecção e enquadramento das canções é fantástica, as interpretações também, assim como a coreografia e figurino; o filme é verdadeiramente um espanto e por certo agradará aos adeptos deste género desde que consigam se abstrair do quão restrito é este argumento. É que não estamos perante um filme pornográfico ou sequer erótico, todavia, diria que merece uma classificação algures entre os dois, uma vez que a brutalidade com que cenas de cariz sexual são expostas poderá surpreender muito boa gente – há sémen explícito nos rostos, genitais exibidos sem pudor, actos sexuais clarividentes e toda uma abordagem comum a filmes só para adultos – ou lá perto!

"True Blue", "I Only Want To Be With You", "Parole Parole" e "I Want To Break Free" são alguns dos diversos êxitos internacionais que são emprestados a esta obra, sendo que a contextualização da letra no encadear do enredo é perfeita.

O filme, que tão depressa arranha a comédia como o drama, conseguiu algum reconhecimento nos festivais reservados a este nicho um pouco por todo o mundo, muito por culpa do magnífico trabalho de realização de Ramón Salazar (também o argumentista), se bem que a interpretação de Mónica Cervera, a actriz principal, no papel de Marieta (que nasceu Adolfo), mereça os maiores elogios (deu voz à maior parte das canções), verdadeiramente fantástica, vestiu a pele da sua personagem de uma forma irrepreensível, de tal modo que perguntamos se é uma mulher a fazer de homem, ou um homem a fazer de mulher!

A cinematografia é muito interessante, o espectador é contemplado com "um banho" de cor e ângulos de filmagem que normalmente não são os escolhidos. A produção trabalhou muito bem num filme que chega a ser um postal da cidade de Madrid, se bem que não me pareça que fosse essa a intenção da produção ou mesmo a vontade das autoridades locais dada a sua conotação negativa por mostrar todo um sub-mundo de perversão, prostituição e sexualidade exposta sem pudor pelas ruas da capital espanhola.

O argumento, embora positivo, acaba por ser uma pedra no sapato devido à grandiosidade dos outros elementos; com um argumento mais trabalhado e numa sociedade ainda mais aberta, este filme teria dado ainda mais que falar. A acção desenvolve-se em torno de Marieta, suas vizinhas e colegas de profissão, sendo que ela não está satisfeita em ser homem, em especial devido aos 20 centímetros de carne que tem entre as pernas, motivo pelo qual recebe frequentemente injecções hormonais que lhe proporcionam seios, voz, gestos e ausência de pelos tipicamente femininos. Estas substâncias não são contudo capazes de lhe retirar o indesejado membro que serve para delicia dos seus clientes e até do próprio namorado, por isso Marieta amealha e anseia por uma viagem ao Brasil que lhe livre do peso e permita as verdadeiras sensações sexuais femininas que tanto ambiciona.

O drama dos personagens, suas características e facetas emociona o espectador que se vê envolvido no desenrolar dos acontecimentos; por vezes acabamos por rir de tão caricatas que são as suas situações ou simplesmente pelas citações, mas este filme tem tanto de dramático como de cómico, tudo isto, encoberto por um musical deslumbrante que nos revela um lado secreto de toda uma sociedade, não só de hoje, mas de sempre. Um filme que conduziu a uma revolução na lei espanhola em termos de liberdade de escolha de género por parte dos transexuais, uma obra a ver, sem pudor, de mente e coração abertos… Vale a pena, mais que não seja pela sua singularidade!
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7/10
Provavelmente o filme sobre cozinhas mais simpático de todos os tempos!
3 March 2010
Warning: Spoilers
É muito agradável, dentro da sua simplicidade, esta comédia postal do género romântico, encomendada pelo poder local da afável Newcastle Upon Tyne, noroeste de Inglaterra, já bem perto da Escócia. Trata-se de um remake de um dos maiores sucessos do cinema Dinamarquês, produzido três anos antes a partir de uma ideia de Susanne Bier, nessa altura com Copenhaga como pano de fundo.

As relações conjugais, a maternidade e a adopção são os temas principais desta comédia séria que gira sempre à volta dos móveis de cozinha. O australiano Richard Roxburgh ("Moulin Rouge", "Van Helsing" e "Liga de Cavalheiros Extraordinários"), actor principal, presenteia-nos com uma deliciosa e divertida interpretação, contrastando com os papéis mais sérios (e de vilão) a que estamos acostumados; em simultâneo, um conjunto de actores de série B têm aqui, por certo, uma das melhores prestações das suas vidas.

Inteiramente rodado em Newcastle e na vizinha Gateshead, este filme postal de baixo orçamento, leva-nos a visitar as sempre nubladas paisagens desta cidade mineira, com as suas pontes, ruas declinadas e monumentos a servirem de pano de fundo, bem como o estádio St. James Park, casa do clube local, sem esquecer as suas gentes e a característica pronúncia da região.

O filme apresenta-nos três histórias de amor, uma baseada no poder económico, outra na atracão sexual e uma que nem sabemos bem no que é que se baseia… A primeira envolve uma jovem com silhueta de manequim e um namorisqueiro jogador italiano ao serviço do histórico Newcastle United, permanentemente lesionado. A segunda ferve entre um desleixado motorista e uma beleza madura de lábios carnudos, os quais, seja onde for, partem para uma maratona sexual assim que se vêem. Por fim, temos um romance condenado à nascença entre uma impaciente e dominadora mulher e um aprazível técnico de cozinhas que de qualquer situação consegue fazer uma piada…

O enredo mostra-nos como o primeiro e o terceiro casal se revelam incapazes de funcionar como tal. Um acaba por divergir na altura em que é descoberto um caso extra-conjugal, enquanto o outro, já condenado à nascença, termina por força do destino, quando um bizarro acidente deixa o actor principal viúvo e a braços com uma menina oriunda do Burquina-Faso acabada de adoptar. Fica então caminho aberto para a convergência entre a jovem traída e o recém viúvo (agora assediado pela cunhada) que desespera por lhe montar uma cozinha que ela não tem como pagar… Pelo meio, a melhor amiga de uma e o melhor amigo do outro, desenvolvem uma fervorosa atracção a partir de um encontro nocturno num supermercado aberto 24 horas.

Se gosta de rir ou por algum modo tem a sua vida ligada aos móveis de cozinha, este é um filme que deve ver. Vai divertir-se com as caricatas expressões de Sonny, o "craque da bola", as piadas de Neil, pai adoptivo da silenciosa mas ternurenta Mgala, e até com o radical estilo de condução de Stan, o predador da ferormonas.

E foi amor à primeira vista
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Happy Now (2001)
9/10
Thriller interessante que foi plataforma de lançamento de talentos
24 February 2010
Warning: Spoilers
"Crime Acidental" é um thriller muito interessante, tocante, cujo argumento incide sobre um suposto assassinato de uma jovem por parte de um vagabundo. A juntar a um argumento cativante, temos umas paisagens deslumbrantes e toda uma vila pitoresca como pano de fundo, bem como um conjunto de actores que aqui brotaram para a mais alta ribalta, tal não foi a sua prestação.

Realizado pela desconhecida Philippa Colllie-Cousins, este filme galês conta uma história insólita, em que dois amigos se vêem inocentemente perante um cadáver ao qual dificilmente escaparão da acusação de assassinato. A solução encontrada foi fazer desaparecer o corpo e agir como se nada fosse. Na hora errada, no local errado e com a acção certa para ser incriminado, um meliante é acusado de ser o autor do sumiço e condenado a prisão perpétua.

A acção é interrompida e recomeçada 14 anos depois, altura em que dois acontecimentos alternam a rotina da pequena vila costeira Pen-y-wig - a chegada de uma "clone" da falecida e a liberdade condicional do vadio. O reavivar das memórias perturba o quotidiano dos criminosos e estes desesperam por uma solução, entretanto já um polícia novato se havia interessado pelo retomar das investigações e, com o desvendar cada vez mais próximo, os culpados entram numa espiral de violência que culmina com a decisão de um duplo homicídio.

Paralelamente ao enredo principal, há todo um aglomerado de personagens e acções que completa o filme, atribuindo-lhe todo um carisma ético/social, de compaixão e redenção. As húmidas paisagens galesas conferem -lhe um ambiente com tanto de acolhedor como de sombrio, envolvendo a trama numa misteriosa atmosfera que agarra o espectador ao sofá.

O elenco é composto maioritariamente por actores britânicos (muitos deles galeses) e conta com a "mágica" Emmy Rossum, norte-americana, então com 15 anos, no duplo papel principal, contracenando com o "elástico" Ioan Gruffudd na pele do agente empenhado e Paddy Considine como mau da fita. De referir que o fantástico desempenho abriu-lhes a porta para o estrelato: Emmy viria a ser a diva de "Fantasma da Ópera", conseguindo ainda papeis principais em "Mystic River", Dia Depois de Amanhã", e "Poseidon";Ioan invadiu as salas de cinema enquanto personagem principal da saga "Quarteto Fantástico", participando ainda em "Rei Artur" e "W." (já antes havia tido pequenos papeis em "Titanic", "Cercados" e "102 Dálmatas"); e Paddy saiu do anonimato, conquistando vagas em "Na América", "Vingança Redontora", "Cinderella Man", "Esquadrão de Província" e "Ultimato".

É surpreendente a pouca divulgação deste filme, dada a sua manifesta qualidade, bem como as positivas criticas que obteve; no entanto, é com pequenos tesouros como este que se constrói uma videoteca singular
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7/10
Quer dar o "golpe do baú" no matrimónio?! Veja este filme!
24 February 2010
Warning: Spoilers
Quando começo a ver um filme para com o qual a expectativa é elevada gosto de pelo menos sentir que a esta era justificável, sendo que, neste caso, acabo por conseguir justificá-la pelo facto de se tratar de um filme do brasão Coen e por ser protagonizado pela glamourosa Catherine Zeta-Jones, não pelo filme em si.

Realizado no período menos conseguido dos génios Coen, responsáveis por marcos como "Fargo – Um Crime Imperfeito", "Big Lebovsky" e "Este País Não É Para Velhos" entre tantos outros, este "Crueldade Intolerável" peca por ser muito instável e acabar por não tirar proveito de todo um conjunto de ingredientes que apontavam para um maior sucesso, tanto na crítica, como na bilheteira.

Com uma dupla prometedora nos principais papeis, Zeta-Jones ("Chicago" e "Ninguém Sai Ileso") e George Clooney ("Syriana" e "Aberto até de Madrugada"), e actores consagrados como Geoffrey Rush ("Simplesmente Genial" e "Piratas Das Caraíbas") e Billy Bob Thornton ("O Anti-Pai Natal" e "Depois do Ódio") em papeis secundários, esta comédia romântica vai perdendo a piada ao longo da sua hora e meia de duração, acabando de uma forma pouco convincente, muito provavelmente devido ao fraco contágio do espectador, quer por culpa da realização, quer mesmo dos sub-aproveitados actores, que não conseguem envolver a assistência na trama e nos sentimentos das suas personagens.

Quem estiver a pensar dar o "golpe do baú" no seu casamento pode lucrar bastante em ver este filme, pois a fluência de ideias nesse contexto pode ser facilmente activada de tão maquiavélicas que são as apresentadas. Há comédias em que nos rimos do absurdo, outras em que nos rimos da "palhaçada" e nesta rimos da maldade e da indignação a que as personagens são constantemente expostas; ver o marido a chegar a casa e aperceber-se de um homem nu a barricar-se na casa de banho pode ter muita piada, mas não se algum deles formos nós!!!

Destaque para as agradáveis imagens nocturnas de Los Angeles, assim como do miradouro a partir do escritório de advogados onde decorre a maior parte da acção. A cinematografia é boa, a sonorização também e este até é um filme que se vê sem cansaço, não se pode é ter a ilusão de que se vai ver uma obra-prima – os Coen fazem-nas, mas não é sempre!
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8/10
Um híbrido de "Bucha e Estica" com "Batman e Robin" – Trapalhada e Justiça de mãos dadas!
22 February 2010
Warning: Spoilers
"Starsky & Hutch" é um policial cómico que pretende ser uma alegoria à corrupção não só na sociedade civil como entre as próprias forças da autoridade. Totalmente baseado na série homónima do meio da década de setenta, o filme recria e ambiente de então de uma forma fiel, onde não são esquecidas as calças à boca-de-sino e todo um visual e sonoridade Disco.

O argumento relata a forma como dois detectives errantes (por diferentes razões) acabam por se tornar parceiros e a luta destes para desmascarar um judeu que comanda o tráfico de droga, encapuçado por uma organização de solidariedade social. As peripécias sucedem-se mas, aos poucos, a verdade vai vindo ao de cima, em especial devido à colaboração com o informador Huggy Bear, protagonizado pelo músico Snoop Dogg (era suposto ser Don Cheadle).

Ben Stiller ("Homens Misteriosos" e "O Maluco do Golfe") é Starsky, um polícia incompetente, filho de uma ex-agente com mérito reconhecido; Owen Wilson ("Atrás das Linhas do Inimigo" e "Darjeeling Limited") é Hutch, detective que, embora corrupto, tem criatividade de advogado na hora de apresentar álibis. Esta dupla (sobejamente experiente dado terem participado juntos em quase uma dezena de filmes), é o principal entrave nos negócios de Feldman, interpretado por Vince Vaughn ("A Cela" e "Be Cool"), que vai conseguindo escapar por entre as asneiras dos detectives.

A obra, realizada por Todd Phillips ("Road Trip" e "Escola Para Totós"), conta com um aglomerado de actores secundários de peso, de entre os quais se destacam Will Ferrell ("O Falso Duende" e "Estranhos Em Casa"), Julliette Lewis ("Aberto até de Madrugada" e "Grito de Revolta"), Amy Smart ("Soldados do Universo" e "Louco Pela Noiva"), Cármen Electra ("Scary Movie" e "Ilha Dos Monstros") e Molly Sims (Série "Las Vegas").

A cinematografia é de muito boa qualidade, bem como a banda sonora, os cenários e o figurino, contribuindo para que possamos assistir a quase duas horas de um filme muito agradável, com tanto de cómico como de real. Não faltam o Ford Torino vermelho e branco que é a imagem de marca da série original (ao todo foram necessários dez e só dois sobreviveram à produção), as piadas, trapalhadas, nem diversas cenas de acção, pelo que este é um filme obrigatório para quem gostou de assistir à série que lhe dá o nome, podendo até se dizer que se trata de uma das mais fieis transposições da TV para o grande ecrã.
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7/10
Vai casar?! Então tem mesmo de ver este filme!
22 February 2010
Warning: Spoilers
"Um Amor Inesperado" é um filme agradável de se ver, sem grandes restrições, pelo que pode ser uma companhia agradável para uma tarde em família, capaz de contagiar os netos a tomar coragem faça a uma paixão e fazer recordar os avós de um qualquer amor ignorado pelo tempo.

Trata-se de uma comédia romântica um pouco mais séria do que o habitual, não desprovida de gargalhadas mas sem as ter do princípio ao fim, aliás, o filme consegue ter momentos em que acreditamos estar perante um drama, tal não é a sua realidade. Escrito pelo próprio realizador, Steven Feder, foi inspirado num clássico homónimo dos anos 40 com Ginger Rogers no principal papel, sendo até nítidos os traços de então que o realizador procurou manter, como o guarda-roupa ou a própria máquina de escrever usada pelo actor principal.

A referência do terror Natasha Henstridge ("Espécie Mortal" e "Fantasmas de Marte") tem aqui um papel bem terrestre, sendo "mortal" apenas para o casamento de Charlie, interpretado pelo simpático Michael Vartan, sendo que ambos estavam noivos mas não um do outro. O amor tem destas coisas e o filme prova que a mulher da nossa vida não tem propriamente de ser a mulher dos nossos sonhos, para além de mostrar o quanto o casamento é odiado numa sociedade moderna, mesmo por quem inveja os que estão para casar.

Peripécia aqui, peripécia ali, a acção flui a um ritmo cativante, demonstrando o lado ridículo de uma lista de casamento ou as múltiplas decisões a tomar para uma cerimónia dessa envergadura. O filme foi rodado na própria Nova York (em especial no Central Park), presenteando o espectador com um roteiro pela cidade, ao qual se dispensava a excessiva publicidade à Bvlgari, que é bem provável que tenha financiado parte da produção. De referir que embora concluído em 1998, apenas foi divulgado dois anos mais tarde devido a complicações legais.

De um modo geral trata-se de uma obra agradável sobre o noivado, com um bom enredo, actores razoáveis, cinematografia e sonoridade aceitáveis e locais de filmagem cativantes, na tradição das clássicas comédias românticas da primeira metade do Século XX.

Um filme a ver, especialmente se gosta de comédias românticas ou se é fã de Natasha Henstridge. Obrigatório no caso de estar noivo ou noiva, não só pode esclarecer se é mesmo com a cara metade que quer casar, como pode dissipar o próprio casamento
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Jekyll and Hyde (1990 TV Movie)
8/10
Michael Caine é o perfeito Jekyll numa contextualização digna de se assistir
21 February 2010
"Entre o Bem e o Mal" é um filme muito interessante, na medida em que rejuvenesce um clássico, tem excelentes representações, boa caracterização e desde cedo deixa vincado o que pretende ser, não criando expectativas inatingíveis no espectador, sendo que aquilo a que se propõe cumpre com todo o rigor.

Naquela que é uma forte candidata ao prémio "Obra Literária mais vezes adaptada para Cinema", cujo total de adaptações é já complicado de somar (entre os quais vencedores e nomeados aos Óscares, tele-filmes e até versões animadas), Michael Caine ("O Conto de Natal Dos Marretas"), também ele um dos mais participativos actores de sempre, com cerca de 150 interpretações, encarna o duplo papel com uma força incrível, presenteando o espectador com um desempenho notável, pleno de sentimento, arrastando-o no seu drama pessoal, o que lhe valeu nomeações para os Globos de Ouro e para os Emmys.

O filme conta com um leque de actores secundários de grande categoria, onde podemos encontrar, entre outros, Joss Ackland ("Caça Ao Outubro Vermelho", "O Siciliano"), Cheryl Ladd (das séries "Anjos de Charlie" e "Las Vegas") e Lionel Jeffries ("Chitty Chitty Bang Bang"), este último com um curto mas muito interessante papel enquanto malogrado pai de Jekyll (ou seria de Hyde?!?!?!?!).

O trabalho de cenarização da antiga Londres de finais do Século XIX foi bem conseguido, ao ponto de o realizador optar por colocar os créditos finais sobre uma filmagem do quotidiano de então. A caracterização das personagens esteve impecável, pois o guarda-roupa é fantástico, a maquilhagem perfeita e até os penteados conseguem estar a um nível superior. A qualidade a estes níveis deve-se ao facto de o realizador David Wickes ter aproveitado grande parte dos cenários e adereços construídos um ano antes para a famosa série "Jack, o Estripador", também esta com a sua direcção e Michael Caine no papel principal.

Os efeitos especiais são aceitáveis, assim como a fotografia e a sonorização, correspondendo à típica imagem do filme feito para TV. Não estamos perante um colosso, mas se há tele-filme que merece uma vista de olhos, por certo, este é um deles
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8/10
Um esboço agradável, mas um futuro re-make deverá ser bem melhor!
21 February 2010
Warning: Spoilers
"O Ilusionista" é um bom filme que tinha tudo para ser ainda melhor, todavia, a realização não soube fazer a omeleta certa com os ingredientes ao dispor e desperdiçou uma excelente oportunidade para fazer história. Porquê? Porque conta com um argumento muito forte, locais de filmagem indicados, recursos técnicos excelentes, actores maravilhosos e mesmo assim continua a parecer que falta qualquer coisa…

Na verdade é uma grande ilusão porque o que de melhor nele temos é a definição da imagem e a forma como esta foi captada, pois nem mesmo os efeitos visuais são uma coisa por ai além, ainda que agradáveis; facilmente se detectam erros simples como a mão a recuar quando a criança caminha no anfiteatro, ou a impossibilidade de o pequeno artefacto oferecido pelo mágico á sua amada poder funcionar da forma como é impingido ao espectador. Agora que a cinematografia de Dick Pope é um espanto, isso sim, é verdade. Talvez se a realização e/ou a edição estivessem melhor entregues pudéssemos ter aqui o papa Óscares de 2007, assim, perdeu-se uma boa oportunidade.

O argumento, baseado num pequeno conto do vencedor do Pullitzer de 1997, Steven Millhauser, apresenta-nos um amor proibido entre um rapaz comum e uma rapariga nobre, passado na Áustria de outros tempos. Um certo dia esta pede-lhe para os fazer desaparecer com o intuito de não ser desmascarado o seu encontro fortuito, sendo que a incapacidade deste leva a que fiquem anos afastados. No reencontro, ela está noiva do sucessor do trono e ele é uma lenda viva da magia. Chegara a altura de ele a recompensar…

O elenco conta com uma mão de actores com enorme qualidade, encabeçado pelo ilusionista Edward Norton ("O Véu Pintado" e "América Proibida") que já nos contemplou com desempenhos de encher mais o olho; acompanhado pela sensual Jessica Biel ("Cellular" e "Blade Trinity") que podia ter demonstrado melhor os seus atributos; perseguido por Paul Giamatti ("Sideways" e "Cinderella Man") que nos oferece o melhor desempenho do filme; chefiado por Eddie Marsan ("Gangster Nº1" e "O Último Carrasco") que passou ao lado; e enfrentado por Rufus Sewell ("Tristão & Isolda" e "A Lenda de Zorro") numa excelente e exigente interpretação.

Creio que o espectador não fica convencido daquilo que vê, tanto em certas magias, como na explicação para a trama que é abordada muito ao de leve. O público de hoje continua a gostar de ir para casa a pensar quem é que é que estava por detrás da máscara, mas quando lhe demonstram como é que a trama se desenvolveu quer saber tintim por tintim e a mim ninguém me explicou como é que um cadáver a boiar descoberto por uma multidão e morte reconhecida pelo medico legista afinal não passou de um truque de magia, magia essa que também ela a um certo ponto do filme mais parecia arte de bruxaria ou coisa do género.

Trata-se de um ensaio agradável de ver, mas que nas mãos de Steven Spielberg seria verdadeiramente de encher o olho! Enfim, resta-nos aguardar pelo re-make, daqui a uns 20/30 anos
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8/10
Reúna a família, vem ai um pulo de filme!
20 February 2010
No virar dos Séculos XX/XXI a Disney contemplou a pequenada com um filme que procurava o reencontro com os sucessos de cinema da saga "Winnie The Pooh", o que não acontecia desde 1983, procurando ir mais além do que a personagem principal de sempre, o ursinho Winnie, que emprestara o seu nome ao título de todos os anteriores.

Se alguma das outras 8 figuras podia e merecia esse destaque sem dúvida que era "Tigger", ou não fosse este, nos tempos correntes, uma imagem tão ou mais valiosa quanto o próprio devorador de mel. De facto o Tigre é hoje um ícone da Disney e um boneco adorado por todos, dado o seu ar simpático e enérgico, daí que a máquina de fazer dinheiro de Orlando não tenha deixado passar a oportunidade. Nos anos que se seguiram, também Piglet e Heffalump tiveram direito a uma obra cinematográfica a eles dedicada, sendo que este último surpreendeu ao passar à frente de Igor ou mesmo o pequeno Ru, uma vez que é o que tem menor visibilidade (excepto em tamanho) de entre a família Pooh!

Quanto ao filme, trata-se de uma animação ao estilo tradicional, sem um clarividente uso da tecnologia, objectivo claro da Disney ao encomendar parte da sua produção a estúdios japoneses, sempre menos na vanguarda no que a este campo diz respeito.

Com as cores esbatidas características desta saga, o filme desenrola-se à volta de um Tigre sedento de companhia para pular e que se apercebe de que se a quer ter terá de procurar a sua própria família. Sempre com a amizade como pano de fundo, é dado espaço às outras personagens de surgirem e contribuírem com um pouco de si, de tal modo que todas se dão a conhecer, excepto Heffalump (que nem se chega a ver).

A mensagem desta obra é a sensibilização do espectador para a compreensão e partilha de gostos numa civilização cada vez mais multicultural, onde a tolerância e a integração se têm tornado indispensáveis a uma plenitude social. As emoções e os gestos fraternos apanágio da saga são uma constante, culminando o filme com uma explosão de ternura e agradecimento por parte da personagem principal, em especial para aquele que se revelou desde sempre o seu parente mais próximo, o pequeno Ru.

Para adeptos dos personagens e não só, este é um filme para toda a família na tradição Disney, sem qualquer restrição, que o vai transportar a um universo mágico, onde os animais não só falam, como vivem e sentem como os humanos, apenas com uma bondade maior… Realização agradável, músicas alegres e vozes no mínimo curiosas, fazem deste filme uma obra indispensável a um reportório infantil (de tal forma que apenas estava previsto o seu lançamento no mercado vídeo mas acabou por estrear no cinema e ter um lucro de 1 para 3,5), sendo que a verdade é que todos a deviam ver.

A título de curiosidade, vale a pena referir que a Disney está a trabalhar numa nova aventura com o Tigre como personagem principal. ;) Gostei muito, mas tenho a certeza que, quando crescer, a minha filhota vai gostar ainda mais!
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